Governo japonês prevê a entrada de mais estrangeiros para compensar a falta de mão de obra
A partir do próximo ano fiscal entra em vigor o novo plano do primeiro-ministro Shinzo Abe de fortalecer a economia com a entrada de mais estrangeiros
A partir do próximo ano fiscal entra em vigor o novo plano do primeiro-ministro Shinzo Abe de fortalecer a economia com a entrada de mais estrangeiros. É uma medida inevitável diante do envelhecimento da população e da falta de mão de obra para sustentar o crescimento econômico.
Nós, brasileiros, que chegamos um pouco antes, graças à reforma na Lei de Imigração em 1990, sabemos que não é tão fácil assim começar uma vida nova em um país diferente. Para acolher esses novos estrangeiros, o Japão precisa adotar cuidados extras: proporcionar mais amparo trabalhista, aprendizado do idioma japonês e implantar sistemas de inserção na sociedade local.
Nos anos 90, na época da bolha econômica, o governo abriu as portas aos "nikkeis" – descendentes de japoneses – que vivem no exterior, para suprir a mão de obra que faltava. Mas alguém lembra da falência do Lehman Brothers de 2008? Quando a crise alcançou a esfera nacional, os primeiros a perderem o emprego foram os estrangeiros sem qualificação. A comunidade nikkei, que cresceu até cerca de 330 mil pessoas, se viu de repente à mercê da sorte na crise financeira internacional.
Em março de 2009 o Japão tomou uma decisão: entregou ¥ 300 mil para cada nikkei desempregado que voltasse ao país de origem. Um total de 21.675 pessoas recorreu à ajuda de retorno, o Kikoku Shien e deixou o Japão. Quem saiu do país dessa forma não pôde voltar durante os três anos seguintes. Mesmo agora, só quem tem um trabalho assegurado no Japão recebe permissão para entrar no país de volta.
Lições do passado
O premiê Abe afirma que seu novo plano está mais consistente, porque é voltado à força de trabalho especializada. Tendo em vista os trabalhos de construção e preparativos para as Olimpíadas de 2020, o governo emitiu uma ordem às empresas para que igualem o valor do salário dos estrangeiros com o dos japoneses, quando as qualificações forem iguais. A medida entra em vigor no próximo ano fiscal, que começa em abril.
Através das agências públicas de empregos (Hello Work), o Ministério do Trabalho, Saúde e Bem-Estar amplia também a assistência para capacitação no trabalho, educação das crianças estrangeiras e aluguel de moradias. O governo chegou a criar o "Comitê de Informações Relacionadas aos Trabalhadores Estrangeiros", composto por 10 ministérios. Por enquanto o trabalho se limita a "compartilhar" informações oficiais.
Incentivo às mulheres
Outra medida prevista no novo plano de Abe inclui a inserção de estrangeiros nos serviços de terceirização de serviços domésticos e cuidados infantis. O problema, nesse caso, é que alguns japoneses não se sentem seguros em contratar os serviços prestados por empresas que empregam estrangeiros.
A lei atual não permite trazer funcionários de outros países especificamente para essas áreas. As exceções existem para casos de diplomatas, empresários ou profissionais estrangeiros que solicitam a vinda do funcionário ao Japão. A partir do próximo ano, pela primeira vez, uma região de Kansai vai liberar a vinda de empregados, babás e faxineiros de outros países, por um prazo de cinco anos.
O salário será igual ao dos japoneses. Mesmo assim, a maior parte das empresas especializadas em serviços de limpeza considera difícil empregar estrangeiros para a área. O custo para treinamento e ensino do japonês seria muito alto. Algumas agências, como a Chezvous de Minato, só conseguem enviar funcionárias filipinas para serviços encomendados por órgãos públicos. Uma pesquisa feita pelo Instituto Nomura com dois mil japonesas entre 25 e 44 anos, revelou que apenas 2% delas aceitariam contratar um serviço doméstico que empregasse estrangeiras.
A realidade é essa. Os projetos do governo podem ter a melhor das intenções, mas ainda vai levar um tempo para que todos os obstáculos sejam vencidos.
Fonte: IPC Digital - 09/11/2014