Setor alimentação: Faltam candidatos mesmo com salário de ¥ 1.500 a hora
A rede Sukiya foi forçada a fechar temporariamente 200 dos dois mil estabelecimentos
O setor de serviços de alimentação passa por dificuldades com a falta de mão de obra, apesar do aumento do movimento provocado pela recuperação da economia. A atual situação é resultado da diminuição de população trabalhadora e elevação do custo salarial do país. O segmento não consegue contratar sequer funcionários temporários (arubaito).
A rede Sukiya, por exemplo, foi forçada a fechar temporariamente 200 dos dois mil estabelecimentos que tem no Japão. E a Watami, com fama de tratar mal os funcionários (é chamada de black kigyou), também passa sufoco por não conseguir mão de obra. A empresa admite que a imagem no mercado de trabalho não é das melhores, e lamenta o aumento do custo com pessoal. Ele ocorre no salário-hora e despesa básica para contratação de um arubaito, que hoje já chega a dez mil ienes.
O setor de assistência social (kaigo), onde atuam muitos brasileiros, também se encontra em situação difícil. O representante da empresa CareRitz&Partners considera que a falta de mão de obra é questão estrutural. O trabalho é extenuante e a baixa remuneração agrava ainda mais esse quadro.
A renda mensal gira em torno de ¥ 200 mil, cerca de ¥ 80 mil mais baixo que a média de todas as atividades profissionais do Japão. Isso significa que o trabalhador dessa área em um ano ganha ¥ 1 milhão a menos do que a média, desestimulando os interessados.
A escassez de mão de obra estende-se a outras áreas. A construção civil, que deveria ser a força motriz da política de recuperação econômica, enfrenta o mesmo problema. O setor está aquecido graças às medidas do governo, e analistas acreditam que a boa fase vai durar ainda por cinco a seis anos com as obras para recuperação da região Tohoku, as Olimpíadas de Tokyo 2020 e o fortalecimento de infra-estruturas do país.
Dentro desse cenário, a realidade das licitações mudou. Há pouco tempo, uma obra, mesmo de baixo custo, era concorrida por sete a oito empresas. Hoje, há muita oferta de obras, permitindo às empresas optarem por serviços lucrativos. Mas a falta de trabalhadores prejudica toda essa euforia. A escassez de carpinteiros, operários em andaimes e estucadores é problema crônico. Para contornar a situação, as construtoras correm atrás de estrangeiros que costumam ser faz-tudo.
Mas há exceções. A empresa administradora de restaurantes Yusin é uma delas. Ela conseguiu reverter a situação de vários estabelecimentos que estavam em baixa. O presidente Akira Kunimatsu lembra que até três a quatro atrás, 75% dos funcionários da Yusin se desligavam todos os anos.
Para contornar a situação, ele passou a ter mais contato com os gerentes, além de aumentar as oportunidades de treinamento de pessoal. Também investiu na saúde e bem-estar dos funcionários, promovendo encontros recreativos como churrasco e boliche. Outra medida foi controlar a carga horária dos funcionários, para evitar jornada excessiva. Dessa forma, a empresa conseguiu reduzir o índice de desligamento até 10% no ano passado.
O relacionamento e a comunicação entre funcionários efetivos e temporários melhorou de modo significativo. Sentindo-se valorizados, os arubaitos passaram a atuar com maior responsabilidade e até a sugerir ideias. Novas contratações foram possíveis com a apresentação deles.
Nos dias de hoje, as empresas devem se preocupar com a reestruturação para evitar o desligamento de funcionários. Mesmo sem dinheiro, é possível criar uma empresa onde há boa comunicação e funcionários empenhados, que pensam juntos para o crescimento mútuo. Uma empresa que sabe aproveitar o quadro de funcionário tem chances de sobreviver, e não importa se o funcionário é estrangeiro, temporário ou efetivo.
A escassez de mão de obra já atinge as empreiteiras (haken gaisha). Se o cenário permanecer e o governo não tomar medidas para reverter a situação, os fabricantes voltarão a sair do Japão, transferindo os pontos de produção para o exterior. O círculo vicioso de esvaziamento industrial poderá tornar-se realidade.
Fonte: IPC Digital